Resenha: The Raven King, de Maggie Stiefvater (A Saga dos Corvos #4)

Essa é uma resenha do livro final de uma série. Para ler a resenha do primeiro livro de A Saga dos Corvos, clique aqui. Para ler a resenha do livro anterior, clique aqui.

(EDIT: Uma resenha em vídeo de toda a série A Saga dos Corvos, sem spoilers, está aqui.)

The Raven King

Os livros finais de uma série são os livros mais perigosos de todos. Os livros anteriores são livres para criar, imaginar, construir, o quanto quiserem; os livros finais, porém, têm a grande responsabilidade de concluir e concretizar: concluir o enredo, concluir a jornada de seus personagens, concretizar todos os prenúncios e alusões dos livros anteriores. O livro final tem a responsabilidade de alcançar as expectativas dos leitores; tarefa impossível, pois cada leitor, lendo os livros anteriores, cria teorias e ideias em sua cabeça sobre como a série deve terminar. É impossível escrever um livro final que agrade a todos os leitores, e corresponda a todas as expectativas. É impossível escrever um livro final perfeito, mas Maggie Stiefvater certamente tenta.

Estive enrolando para escrever essa resenha porque primeiro, é muito difícil falar sobre um livro sem revelar nenhum spoiler – e realmente não quero revelar nada para todos que estão esperando pelo lançamento brasileiro. E segundo, essa será uma resenha difícil porque eu amei esse livro; mas sei que muita gente não gostará dele.

The Raven King capa

Sim, essa é a carta da Morte em cima do livro. Entendedores entenderão. 😉

São as benditas expectativas de novo. No tempo de espera entre Lírio Azul, Azul Lírio e The Raven King, vários leitores criaram as mais elaboradas teorias sobre o que irá acontecer com Glendower, qual será o caminho e decisões que certos personagens tomarão, quais serão as grandes revelações do livro… os leitores criam todas essas ideias sobre o que os personagens devem fazer, e como o enredo deve se desenrolar; mas a escritora tem suas próprias ideias sobre os personagens e enredo, e nem sempre esses dois pólos entram em acordo. Não há muito o que fazer sobre isso; os leitores têm o direito de criarem suas próprias ideias e perspectivas sobre personagens, mas – e isso parece óbvia dito assim, mas nem sempre é algo que fãs lembram – a escritora do livro também tem suas ideias, afinal é ela que criou esses personagens. Então o que fazer com esse dilema – você como leitor não pode ter seus sentimentos ignorados, mas o livro não foi pelo caminho que você esperava? Acredito que um caminho a se tomar seja: por um momento deixar suas expectativas de lado, e tentar olhar a história pelo ponto de vista do autor.

Tive sorte nesse aspecto, porque em geral minhas expetativas e ideias sobre A Saga dos Corvos estavam em linha com o que Maggie Stiefvater fez no último livro. Mas ainda tive vários momentos de “que? como assim, de onde veio isso?”, principalmente com as conclusões dos arcos emocionais de Gansey e Blue (e para muitas pessoas Noah também entrará nessa categoria). Em um primeiro momento fiquei não apenas decepcionada, mas também confusa, pensando que Stiefvater surgiu com essas reviravoltas de última hora. Porém, no momento em que me distanciei um pouco dessas minhas expectativas e pensei na história desses personagens como um todo, percebi que Stiefvater já estava jogando dicas do que iria acontecer com Blue e Gansey (e Noah) nos livros anteriores; eu só não tinha percebido. Esse é um dos raros casos em que eu acredito na escritora quando ela diz que já tinha todo esse final planejado desde o primeiro livro; porque apesar de eu ter criado ideias diferentes, percebe-se que os livros anteriores realmente suportam as reviravoltas finais.

É claro, deixar suas expectativas de lado ao se deparar com uma reviravolta que você não gosta é fácil de falar mas difícil de fazer – a razão de eu dar 4.5 estrelas e não 5 estrelas para The Raven King é justamente porque uma coisa que eu queria muito que acontecesse não aconteceu -, mas eu realmente acho que tentar enxergar um livro do ponto de vista do autor ajuda muito a entender porque o autor fez certas coisas. Por exemplo, a adição aparentemente abrupta de certo personagem em The Raven King faz mais sentido quando se percebe que esse personagem é importante para exemplificar um dos temas do livro, e sua adição ocorre só agora porque não havia nada que poderia ser cortado dos outros livros. A conclusão de Glendower pode decepcionar alguns leitores, mas quando se pensa no arco emocional de Gansey, é realmente o que precisava acontecer para que Gansey chegasse onde ele precisava chegar.

The Raven King dentro

Então certas coisas não acontecerem como eu queria que acontecessem, mas ainda assim não me decepcionei com essa conclusão: porque as coisas que aconterecam foram bem mais importante do que o que não aconteceu. Ronan e Adam foram excepcionais em The Raven King, e chegaria ao ponto de dizer que eles são não apenas as estrelas desse último livro, mas são também os “verdadeiros protagonistas” de A Saga dos Corvos. Esse é um dos temas que Stifvater traz em todos os livros, mas explicita em The Raven King: todos os personagens têm sua importância na narrativa, e podem ser considerados “o verdadeiro protagonista”. Em The Raven King, vários personagens secundários ganham capítulos para si, todos começando com a mesma abertura: “Depending on where you began the story, it was about…” Todos os personagens têm sua importância, suas emoções, suas histórias, seus traumas; são todos importantes, todos impactam a narrativa de alguma forma.

Esse é o grande sucesso de The Raven King: os personagens. A impressão que ganhei de A Saga dos Corvos como um todo é a seguinte: durante os três primeiros livros, Stiefvater consegue engalar leitores fazendo-os acreditar que essa é uma história sobre magia, buscas por reis mortos, e profecias sobre beijos e amores verdadeiros. Em The Raven King, Stiefvater derruba essa ilusão e mostra a verdade: esse não é um livro sobre a busca de Glendower, ou sobre a profecia de Blue, ou sobre qualquer enredo; esse é um livro sobre personagens que precisam superar traumas de seu passado, e sobre a amizade indestrutível que esses personagens formam.

De muitas formas, The Raven King é onde Stiefvater está mais Stiefvater: pouca atenção para o enredo, muita atenção para o psicológico dos personagens, amizades sendo consideradas tão importantes quanto romances, tudo isso envolto por uma escrita maravilhosa – com certeza a melhor escrita de Stiefvater até agora. Isso não vai agradar a todos – especialmente os que esperam mais foco no enredo -, mas para mim, que ama essa série justamente pelos personagens, terminei esse livro 100% satisfeita.

The Raven King encerra A Saga dos Corvos de uma maneira interessante: tomando a via contrária à do epílogo de Harry Potter, o epílogo de The Raven King deixa claro que A Saga dos Corvos não é a última aventura desses personagens – nem mesmo, talvez, a aventura mais importante de suas vidas – mas apenas o começo. De novo, alguns leitores talvez se irritem com o que considerarão pontos da história sem resolução, mas, pelo contrário, acho que essa série não poderia ter um final melhor. Já sinto falta de Ronan, Adam, Blue e Gansey, mas me conforta saber que A Saga dos Corvos não será a época mais feliz ou até mesmo importante de suas vidas; a magia não acabou com o final da série. Esses personagens estarão juntos pelo resto de suas vidas, indo em buscas diferentes, e sempre à apenas um passo da magia.

The Raven King contra-capa

Mal posso esperar para que esse livro seja lançado no Brasil para que eu posso falar mais abertamente sobre ele – quero muito fazer um post sobre A Saga dos Corvos em geral que seja só sobre spoilers, para que eu possa discutir o desenvolvimento de cada personagem mais abertamente. Essa é uma série que me impactou imensamente, e estou muito aliviada de ver que o último livro não me decepcionou, mas deu aos personagens que eu amo a resolução que merecem. Com certeza entrará para minha lista de livros favoritos da vida.

13 comentários sobre “Resenha: The Raven King, de Maggie Stiefvater (A Saga dos Corvos #4)

  1. Li essa resenha toda balançando a cabeça. Ainda não li The Raven King (e sim, estou morrendo por isso), porque faço parte dos sofredores que estão esperando o lançamento do Brasil, mas o modo como você falou do seu amor pela história, pelos personagens, por tudo… me identifiquei de cara. Essa saga está tatuada no meu coração e com certeza foi uma das melhores que li na vida. A Maggie… não tenho o que dizer. Ela me fez amar os personagens como só J. K. Rowling, Cassandra Clare e Ransom Riggs conseguiram até agora.
    Você meio que acabou comigo com as insinuações. Aquela carta da morte…
    Enfim. Adorei a resenha, ela acalmou um pouco minha ansiedade.
    Certo, não acalmou. Na verdade, estou ainda mais ansiosa agora.
    Editora Verus, pelo amor de Deus…

    Curtir

    • Ahh que bom que gostou da resenha. ❤ Confesso que tirei aquela foto com a carta da morte dando risadinhas com o tamanho da minha maldade hahaha. Como eu disse, muita gente que eu conheço amou a conclusão da série, mas sei também de muita gente que odiou. Acho que tudo depende do quanto suas prioridades combinam com as prioridades da Maggie.
      Mas força que esse livro já tá chegando, outubro tá quase aqui. ❤ Aí você me diz o que achou do livro, se cai no campo dos que amou ou dos que odiou! haha

      Curtir

  2. Pingback: Resultados da #Vedatona + Próximas Resenhas/TBR | Raposísses

  3. Pingback: Lançamentos: Livros YA LGBT para o segundo semestre de 2016 | Raposísses

  4. Nossa… eu ainda não li esse livro, mas muito obrigada por escrever e expressar exatamente o que eu sinto sobre essa autora e TODOS os seus livros. Eu sempre achava que via além de todos os seus personagens, além de um garoto que se transforma em lobo e conhece em uma garota o amor, além de corridas de cavalos assassinos e além de reis lendários e magia, eles são muito mais. Eles são as emoções mais cruas e tudo o que cada um de nós passa e as lições que aprendemos com tudo, ela consegue passar isso de uma forma tão camuflada e sutil, que aqueles que só enxergam um livro young-adult com um bom enredo jamais vai perceber. Obrigada, e obrigada a Maggie.

    Curtir

    • poxa, obrigada vc pelo comentário! é ótimo encontrar pessoas que foram tão afetadas quanto eu por esses personagens. eu ainda não li os outros livros da maggie, mas estão na minha lista – não duvido que seus outros personagens sejam tão especiais quanto os de a saga dos corvos. e ah, quando vc ler the raven king, volte aqui e me conte o que achou! estou curiosa pra saber onde todo mundo vai cair na grande divisão entre pessoas que amaram e odiaram a conclusão dessa história hahaha.

      Curtir

  5. Aí, ler sua resenha me deixou extremamente nervosa! Mais nervosa do que eu já estava antes. É muito difícil porque a gente já fica toda sentimental por ser o fim da saga, e tipo, toda essa expectativa vem sobre nós e aquele medo sobre o que vai rolar, aí!
    A parte ruim de sagas onde os personagens são o foco do enredo é que a gente acaba se apagado de mais e quer que tudo dê certo para eles, mas infelizmente, algumas vezes isso não é possível e a gente fica indignado, eu pelo menos.
    Nesse saga, em principal, ao mesmo tempo em que a gente fica torcendo pra tudo dar certo, a gente fica com aquele peso de saber que as coisas precisam ser resolvidas.
    Ahh, tu me deixou muito assustada em relação a essa coisa da Blue e do Gansey, porque eles são tão amor, né? Mas, ainda sim, Ronan e Adam tem seu espaço, espero aquele algo a mais deles nessa conclusão, numa que a Maggie ficou nos dando aqueles sinais, principalmente em Lirio Azul.
    Adorei a resenha e tô super curiosa!
    Beijinhos!

    Curtir

    • Ai te entendo bem! Também tava suuuuper nervosa antes do lançamento de TRK, pensei que teria um ataque de nervos antes do bendito livro sair! mas estou aqui pra falar que passei por isso e sobrevivi HAHAHA força que falta pouquíssimo tempo pro livro sair aqui no Brasil!
      Confesso que, como Ronan e Adam são meus favoritos, não sou uma fonte tão confiável assim pra falar de Blue e Gansey kajsbdja mas sabe que quando li o livro (isso foi tipo uns quatro meses atrás) fiquei meio ??? com o desenvolvimento deles, como disse aí na resenha né. Mas agora, depois de ter tempo pra pensar na história com calma, faz cada vez mais sentido o que aconteceu com eles. Acho que esse é um livro que você realmente precisa parar e pensar sobre pra conseguir entender tudo, sabe. A Stiefvater não dá nada de mão beijada pros leitores, haha.
      Que bom que gostou da resenha! Depois que ler O Rei Corvo passe aqui de novo o me fale o que achou, heim 🙂

      Curtir

  6. Pingback: Vídeo: A Saga dos Corvos, de Maggie Stiefvater (sem spoilers) | Raposísses

  7. Jesus Cristo, acabei de ler O Rei Corvo e não sei muito bem o que está acontecendo, eu estou tão perdida e desolada e vazia…não sei. Iniciei o primeiro livro da saga há pouco mais de uma semana, sem muitas “esperanças”, e não sabia muito bem se chegaria ao menos na metade do livro, e quando vi já estava no último da série, frenética e impaciente e louca. O que eu posso dizer? É uma a história tão incrível, tão profunda , maravilhosa, intelihente, metafórica e repleta de fragmentos que passaram batido e depois me deixaram confusa e decepcionada e depois feliz…aaaaaaah, não sei, não entendi muito bem o final, vou ter que ler tudo de novo, com olhos mais apurados e formular uma opinião (não que reler os livros seja um sacrifício, muito pelo contrário!). O que posso dizer é que estava com medo de Garotos Corvos ser mais um clichê de fantasia, mas surpreendeu para um car@l#o sendo “algo mais”, e também com receio do final de O Rei Corvo ser clichê, e novamente fui surpreendida e encantada, mesmo que sinta que faltaram alguns detalhes, o que me faz pensar que eu realmente tenho que ler todos novamente.
    Eu amo o Gansey e a Blue, o Adam e o Ronan. Mas, acima de tudo, EU AMAREI ETERMAMENTE O MEU LINDO E MARAVILHOSO RONAN!
    É isso, haha, ficou enorme! Parabéns pela resenha, de verdade, você escreve super bem, argumenta e aponta todos os lados, simplesmente adorei ❤
    Bjsssss

    Curtir

Deixe um comentário