Resultados (super atrasados) da #MLI2016

Resultads da MLI2016

OLHA QUEM APARECEEEU com um post que era pra ter ido pro ar um mês anteeees parabéns pra mim, heim. Em minha defesa, é isso que acontece quando você perde todas as suas fotos salvas, aí a câmera quebra, aí você fica super ocupada sem tempo pra escrever nem um textinho no tumblr (caso especial: gringos falando merda sobre as olimpíadas, aí foi obrigada a escrever um textão no tumblr mesmo) MAS ENFIM. Até pensei em simplesmente… não postar os resultados da MLI, já que já estamos no último dia de agosto e a margem para “posts atrasados” já passou faz tempo; mas sinceramente, minha MLI foi muito boa haha, e tem muitos livros aqui que acho que valem muito a pena serem lidos. Então aqui está, meus livros lidos na #MLI2016, com um mês de atraso!

No começo de julho fiz um post sobre minha TBR tentativa para a MLI2016, e disse que não faria nenhuma promessa de cumpri-la… e realmente, acabei não seguindo minha TBR muito à risca. Mesmo assim, havia 10 livros na TBR, e no final do mês contabilizei 11 livros, 2 livros de poesia, e 1 livrinho de não-ficção. Então ainda acho que minha MLI foi um sucesso. Mas chega de ladainha e vamos aos livros:

Primeira Semana: Encalhados

1. Amor Insensato, de Junichiro Tanizaki (★★★★). Comecei a maratona já quebrando a TBR sim senhor. Na verdade esse é um livro para a faculdade que eu deveria ter lido em junho, mas acabei enrolando e por consequência caiu na MLI. Amor Insensato conta a história de Joji, um assalariado de meia idade que conhece Naomi, uma menina de 15 anos que o fascina por, apesar de ser japonesa, ter feições ocidentalizadas. Joji coloca Naomi “sob sua tutelagem” para que lhe dê todo o ensino e instrução que ele acha necessário para que ela se torne sua esposa perfeita. Nada ocorre como o esperado, porém, e Joji se vê sendo manipulado cada vez mais por Naomi.

Esse livro ganha muitas comparações com Lolita, por razões óbvias – o sumário até diz que “traz a marca de um dos mitos literários mais fortes da literatura contemporânea: o da ninfeta que aniquila a vida de um homem comum” (algo totalmente irreal porque, primeiramente, nem Dolores nem Naomi são as culpadas de se tornarem as obsessões de homens pedófilos bizarros, mas ok). Mas apesar dos protagonistas fetichistas e narradores não confiáveis em comum, é aí que as similaridades entre os dois livros acabam. Amor Insensato é, na verdade, um livro que estuda as consequências da ocidentalização do Japão pós-Primeira Guerra, usando Naomi e Joji como alegorias para os Estados Unidos e Japão, respectivamente. É um livro muito interessante, e super recomendado para leitores interessados em literatura japonesa.

2. Exorcismos, Amores, e Uma Dose de Blues, de Eric Novello (★★★) Tiago Boanerges, exorcista experiente, foi demitido do Conselho de Hórus – organização responsável por investigar o comportamento de seres sobrenaturais – após fracassar em uma missão. Anos depois, seu antigo supervisor volta com uma proposta que Tiago não pode recusar: uma segunda chance de concluir a fatídica missão que causou sua demissão.

Comecei a ler esse livro super empolgada: um livro de um escritor brasileiro, ambientado em São Paulo, sobre exorcismos, fantasmas, e outros eventos sobrenaturais, e um protagonista bissexual! Parecia a receita perfeita, certo? Pois é, estou muito triste em dizer que acabei me decepcionando um pouco . O melhor desse livro é com certeza o mundo que Eric Novello constrói. Ele transforma São Paulo em Libertá, uma cidade-foco dos oníricos – como os espíritos são chamados – e em várias partes da história há descrições de lugares conhecidos, mas modificados pela existência da magia e do sobrenatural. Vários outros seres também são introduzidos, como lobisomens, e todos têm seu lugar nesse mundo; é tudo tão bem integrado que realmente parece que Libertá poderia ser uma cidade de verdade. Mas enquanto eu amei a construção de mundo, a história e os personagens em si… nada despertou meu interesse. Na verdade saí desse livro com uma sensação muita estranha de que, enquanto várias coisas acontecem na história, ao mesmo tempo parece que nada está acontecendo. A história não me prendeu, e os personagens não me convenceram – enquanto Libertá poderia ser uma cidade real, em nenhum momento senti que os personagens eram algo além de personagens fictícios.

Não desisti dos livros de Eric Novello, e muito mesmo diria que esse livro não vale a pena ser lido – Libertá merece ser conhecida, pelo menos -, mas não posso fingir que não esperava mais de Exorcismos, Amores e Uma Dose de Blues. Quem sabe na próxima.

Segunda Semana: Hype

3. Destinos e Fúrias, de Lauren Groff (★★★★) “Toda história tem dois lados. Todo relacionamento tem duas perspectivas. E às vezes a chave para um grande casamento não está em suas verdades, mas em seus segredos.”  Esse foi eleito o livro do ano pelo Barack Obama, quer mais hype do que isso? Como a sinopse já deixa claro, esse é um livro sobre um casal envolto em segredos, e como pontos de vistas distintos podem enxergar a mesma história de formas diferentes. Amo livros sobre narradores não confiáveis, então já suspeitava que amaria esse livro – e realmente o adorei. A escrita é simplesmente incrível, e a escritora consegue criar personagens extremamente reais. Esse é um livro sobre temas, não história, então leitores que precisam de um fio de narrativa constante talvez não gostem tanto de Destinos e Fúrias, mas se o seu campo é estudo de personagens, esse livro será um deleite. Minha única decepção é que a autora foi tão longe com a história do marido, mas não conseguiu alcançar o mesmo nível com a história da esposa. Mas há muita coisa a ser falada sobre esse livro, e com certeza escreverei uma resenha sobre ele.

4. A Maldição do Vencedor, de Marie Rutkoski (★★★) Acho que todo mundo já ouviu falar desse livro desde que foi lançado no Brasil, certo? O hype dele só não foi maior que o hype para The Kiss of Deception, mas estou feliz em dizer que dessa vez o hype não me decepcionou (muito). Já postei minha resenha sobre o livro, mas resumindo rapidamente minha opinião: escrita boa o bastante para disfarçar clichês, construção de mundo interessante, protagonista ótima… mas a relação senhora/escravo me deixou muito desconfortável, e por isso não pude dar uma nota mais alta do que três estrelas.

5. O Crime do Vencedor, de Marie Rutkoski (★★★) Desviei da TBR novamente, mas eu precisava saber como essa história ia continuar. As pessoas com quem conversei sobre O Crime do Vencedor disserem que ele é ainda melhor que o primeiro livro, e estão absolutamente certos. A escritora expande o mundo criado no primeiro livro, as lutas políticas se intensificam, e o lado senhora/escravo do romance quase desaparece. A questão das tensões políticas entre os dois reinos é um grande foco de O Crime do Vencedor, que é o meu aspecto favorito da história. Mas o meu problema com esse livro foi o outro grande foco da história: o romance. 90% do romance de O Crime do Vencedor é drama sobre “ele me odeia, mas ele me ama, mas ele me odeia”. Os mesmos leitores que disseram que esse livro é melhor que o anterior disseram que O Crime do Vencedor tem menos romance, mas terminei o livro com a impressão de que pelo menos metade das cenas têm ou a Krestel ou a Arin se lamentando sobre seus problemas amorosos. É claro, não há nenhum problema nisso – tenho certeza que leitores que amam Arin/Kestrel vão ter ataques com todas as reviravoltas na relação dos dois que ocorrem aqui. O problema é que eu não fui convencida pelo casal Arin/Kestrel no primeiro livro, então um livro inteiro só sobre os problemas românticos dos dois realmente não me interessa. O Crime do Vencedor é metade jogos políticos e metade romance, e enquanto eu AMEI a parte política, poderia ter ficado sem a outra metade.

6. Welcome to Night Vale, de Joseph Fink e Jeffrey Cranor (★★★★) Welcome to Night Vale tem duas protagonistas: Jackie, proprietária da loja de penhores na cidade de Night Vale, uma adolescente de 19 anos há décadas; e Diane, mãe de um filho de 15 anos que, como todos os adolescentes de 15 anos, está constantemente mudando de forma. Ambas têm suas vidas viradas de cabeça para baixo quando entram em contato com o Homem do Paletó Bege, e precisarão trabalhar juntas para resolver o mistério de King City.

Esse livro pode até não ter sido muito hypado pelo público em geral, mas como fã do podcast, eu pessoalmente cheguei nesse livro com um hype estratosférico. Para leitores que não são familiares com o podcast, o livro Welcome to Night Vale deve ser entrado de mente aberta: é um mundo onde  “bizarrices” são tratadas como ocorrências normais, e talvez nem todo leitor goste desse clima; principalmente no começo do livro, onde essas “coisas estranhas” são mostradas uma depois da outra sem nenhuma razão aparente. Mas conforme a história começa a se desenrolar, percebe-se que o “estranho” e “absurdo” está sendo usado como alegoria para tratar de assuntos muito reais: o tema mais óbvio do livro é o de relações inter-geracionais (mais especificamente, entre adultos e adolescentes), mas não é o único. Novamente, esse é um livro que pretendo escrever resenha sobre, porque há muitas coisas a serem faladas sobre a franquia de Welcome To Night Vale.

Terceira Semana: Outros Mundos

7. A Menina Que Tinha Dons, de M. R. Carey (★★★★★) Se a segunda semana foi a semana dos livros que precisam ser resenhados, essa terceira é a semana do lacre. Os livros cinco estrelas foram aparecendo e não acabaram mais, começando com A Menina Que Tinha Dons. Esse livro conta a história de Melanie, “uma menina superdotada que faz parte de um grupo de crianças portadoras de um vírus que se espalhou pela Terra e que são a única esperança de reverter os efeitos dessa terrível praga sobre a humanidade”. Sim, uma história de zumbis! E com certeza meu livro favorito sobre zumbis até agora.

A Menina Que Tinha Dons tem como base temas bastante comuns à histórias de zumbis, todo tópicos que já vimos antes: a invasão zumbi como uma epidemia causada por um vírus, crianças aparentemente imunes, até os personagens são encaixados em Tipos Comuns (o militar que se recusa a enxergar os zumbis – e as crianças – como humanos, a cientista que se importa mais com resultados do que com morais, e a professora que serve com o núcleo moral da história). Mas o maravilhoso desse livro está em como o escritor pega esses clichês e os transforma em algo novo, levando a história a lugares totalmente inusitados. Esse é um livro mais psicológico do que de aventura/horror, então os leitores que entrarem nessa história esperando muito sangue e cérebros voando ficarão decepcionados. A Menina Que Tinha Dons é na verdade uma história sobre o caminho da humanidade, e a reviravolta final oferece uma possibilidade incrível para o nosso fim.

8. Seraphina, de Rachel Hartman (★★★★★) Seraphina é um dos livros “recomendações 5 estrelas no goodreads” da Maggie Stiefvater, e acho que só preciso dizer isso para vocês perceberam o quão bom ele é, certo? Se a Stiefvater deu cinco estrelas, é porque alguma coisa aí tem. Esse livro conta a história de um mundo onde dragões e humanos convivem em uma paz tensa, desde que o Tratado de Paz entrou em vigor séculos atrás. Apesar da paz política, porém, ainda há muita tensão entre as duas raças. A protagonista do livro é Seraphina, uma garota de 16 anos que se torna assistente do compositor da corte na mesma época em que um membro da família real é assassinado ao estilo típico de mortes por dragão. Seraphina terá que navegar as tensões da corte, mais altas do que nunca, e ajudar a resolver o mistério do assassinato, ao mesmo tempo que mantém segredo de algo sobre sua identidade que pode levá-la a morte.

Ás vezes é mais fácil resenhar livros 2 estrelas do que livros 5 estrelas, porque não há muito o que dizer sobre um livro perfeito. Personagens ótimos, história ótima, ritmo da narrativa ótimo, desenrolar do romance ótimo (eu falar esse último ponto é raro, heim). A própria construção dos dragões é incrível, uma raça estritamente racional que trata emoções como uma “doença mental”, e o desenvolvimento da divisão entre humanos e dragões – em um primeiro momento o tratamento que os dragões sofrem pode ser interpretado como mais uma instância de “alegoria de racismo” em um livro de fantasia, mas ao final da história fica claro que são os os humanos que estão em perigo se o Tratado de Paz for quebrado, não os dragões.

Seraphina é o primeiro de uma duologia, e estou com planos de ler a continuação agora em setembro. Se o segundo livro for tão bom quanto o primeiro, quem sabe, podem esperar um post sobre essa série por aqui. 🙂

Quarta Semana: Representatividade

Essa foi a semana que joguei minha TBR pelos ares, e peguei três livros não lançados aqui no Brasil ainda para ler. Os dois primeiros, The Fifth Season (★★★★★) e The Long Way to a Small, Angry Planet (★★★★) são livros de ficção científica nomeados à prêmios literários esse ano – Hugo Awards e Clarke Awards, respectivamente -, e como pretendo fazer um post separado sobre esses prêmios literários, resolvi deixar a “mini resenha” desses dois livros para essa ocasião. Principalmente porque são livros muito densos, e seria impossível falar deles em um espaço tão pequeno! Mas posso adiantar que The Long Way to a Small, Angry Planet é o livro sobre “viagem espacial com aliens” dos meus sonhos, e The Fifth Season é um sério concorrente para o título de Melhor Livro Lido em 2016. Para os que lêem em inglês, super recomendo as duas leituras.

O décimo primeiro livro dessa maratona é The Chimes (★★★★★), o livro mais AMOR dessa maratona. The Chimes despertou meu interesse quando fiquei sabendo que a autora escreveu esse livro pensando que seria um YA, mas a editora resolveu publicá-lo como livro de ficção adulto. Isso pareceu meio maluco, mas após ler The Chimes entendi como isso aconteceu: a história do livro em si é uma história típica de livros YA – adolescentes em um mundo distópico, tentando acabar com seu governo totalitário -, mas a escrita é tão bem trabalhada, e tão diferente de tudo que já vi, que eleva o nível do livro para a categoria literária. O mundo de The Chimes é um mundo em que não há mais escrita, e a comunicação é feita, ao invés disso, pela música; além disso, é um mundo onde as pessoas não conseguem reter suas memórias, apenas ações diárias habituais que ficam “guardadas” na “memória física do corpo” – ou seja, as pessoas se lembram de seu trabalho, mas não se lembram, por exemplo, de seus familiares falecidos. Tudo isso é refletido na escrita: termos musicais são usados no lugar de adjetivos, e a narrativa do livro é confusa porque a memória do protagonista está confusa. É um livro maravilhoso, com personagens simpáticos e, para fechar com chave de ouro, um romance lgbt. Dessa lista, The Chimes é o livro mais difícil de ser lido, mas ainda o recomendo para todos que tem um nível mais avançado de inglês.

 

Bônus

Além dos livros “de verdade”, ainda li dois livros de poesia esse mês: Milk and Honey e the princess saves herself in this one, ambos livros três estrelas. Não são livros ruins, mas diria que são para iniciantes no gênero de poesia: a linguagem é simples, os temas dos poemas fáceis de serem entendidos. São livros três estrelas porque não me apresentaram nada de novo, e nenhum poema dessas coleções me impactou de qualquer jeito, mas recomendo para leitores procurando entrar nesse mundo da poesia. Comprei os dois em uma promoção na amazon, quando os ebooks estavam de graça por uma semana; mas acho que esses ebooks ainda estão com um preço camarada por lá.

E finalmente, Sejamos Todas Feministas (★★★★★). Esse é um panfletinho pequeno e super rápido de se ler, mas indispensável. Chimamanda Ngozi Adichie escreveu esse livro como adaptação do discurso que deu para  TEDx Talks de mesmo nome, que fez tanto sucesso que até Beyonce usou parte do discurso na icônica música Flawless. Esse discurso é uma introdução ao feminismo, e não trará nada de novo a quem já é mais a par do movimento; mas sua importância está em, como um texto introdutório, não fugir dos temas mais controversos. Chimamanda não tenta tornar o movimento feminista “palatável” e “menos ameaçador” para os homens – ela não gasta seu tempo afirmando que “todos podemos ser feministas”, “você pode ser feminista e não ser lésbica/se depilar/ser bonita” (porque deus me livre ser qualquer uma dessas coisas?). Ao invés disso, Chimamanda decide afirmar que a raiva de uma mulher não só é válida, como é um sentimento importante; e porque a luta para a igualdade entre os gêneros deve ser chamada “feminismo”, e não “igualidade entre os gêneros”, ou qualquer outro termo que as pessoas que dizem não ser feministas e sim “humanistas” criam.